Cala a boca
Eu sempre fui respondona. Odeio ter que calar e detesto pensar no melhor argumento só depois de já ter saído da discussão.
Durante quase toda a adolescência e início da vida adulta, eu tentei ficar quieta, eu tentei deixar passar, ignorar, fingir que não é comigo. E tem uma satisfação nisso, a indiferença é pior que a raiva.
Porém quando engulo as vilezas que quero dizer, elas se tornam gastrite. Poucas vezes eu xinguei alguém, com palavrões e ofensas, mas é bastante possível ser ferina com vocabulário classificação livre.
(Talvez por isso sempre falaram que eu deveria ser advogada. Eu aprimorei a arte do xingamento de entrelinha nos meus anos de escritório.)
Meus dedos coçaram hoje. Fiz como faço com desejo de compras na internet : abri meu grupo de WhatsApp só comigo mesma e escrevi até a mensagem ficar cortada com o botão de “leia mais” ao final. Não enviei, mas pelo menos essa noite não vou ter gastrite, somente uma indigestão.